segunda-feira, 25 de julho de 2011

a múmia.


Na cama ao lado uma múmia. Apenas os olhos negros se revelavam. E eu, com um pouco de piedade, perguntei a múmia se ela queria fumar. Não respondeu.

Acendi o cigarro, escondendo das enfermeiras que passavam apressadas pelo corredor, e procurei a boca da múmia por entre as bandagens  manchadas de sangue. A múmia estremeceu. Pela janela a lua iluminava a ponta do cigarro. E eu a mandava fumar: fume, fume, fume múmia; fume e esqueça de tudo... Os olhos da múmia não me largavam.

De repente a fumaça começou a sair por entre as gazes. Saia fumaça pelas orelhas, pelo nariz, pela garganta, pelo peito... Retirei o cigarro, apaguei-o e espanei a fumaça da  enorme cabeça da múmia.

Como meu corpo também doesse, deixei a criatura e olhei pro escuro do quarto pra dormir. Lembro-me de ter sonhado que era o melhor jogador de futebol do mundo de ter sonhados qualquer coisa como que caindo de um abismo - mas não tenho certeza, nunca lembro direito dos sonhos. Acordei às 7 da manhã, tranquilo e sem dores. Olhei para o lado e não encontrei a múmia. Pus-me de pé e gritei alto com uma enfermeira que passava:, a voz saiu trêmula e engasgada: - Cadê a múmia? A enfermeira entreabriu a porta dupla do quarto, olhou-me pausamente e afirmou: A múmia morreu...

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